Como Agnes nasceu

Na literatura de Carla Dias, os personagens principais de suas tramas são criados a partir da necessidade de dizer algo. No caso de Agnes, a construção se deu antes de a autora pensar em transportá-la para a literatura. Ela veio antes do algo a dizer.

Em 2000, a irmã mais nova da autora, Adriana, estava grávida do segundo filho. Ainda criança, brincando com suas bonecas, ela escolhera o nome que daria a sua filha, quando ela nascesse. E se manteve firme na decisão até se tornar uma adulta. Porém, não se sabe o motivo, ela decidiu que daria outro nome à filha que não o já escolhido, aquele com o qual batizou tantas bonecas, durante as brincadeiras de criança.

Carla começou a palpitar sobre nomes que Adriana poderia colocar na filha, principalmente porque achava o nome escolhido pela irmã um pouco suave demais. A autora é ciente da própria dificuldade em dar nomes aos personagens, o que dirá a uma criança, então encarava as suas sugestões com desprendimento.

Sugeriu chamá-la Magnólia, logo depois de assistir ao filme de Paul Thomas Anderson. E foram várias as sugestões, até Carla começar a pensar sobre elas com seriedade... Que tipo de pessoa seria uma Valentina? Uma Morgana? Brigite?

Durante várias ligações telefônicas, e longas conversas na casa da mãe, acompanhadas de muito café, Carla explicava à Adriana o porquê de os nomes serem boas opções para a criança. O essencial era que fossem nomes fortes, que sugerissem que a menina seria, antes de tudo, dona de seu próprio destino, capaz de lidar com os altibaixos da vida, sem perder a graça. E disposta a lutar por seus ideais.

De acordo com a autora, mães pensam sonhando sobre como serão os seus filhos, constroem para eles um cenário, mas na maioria das vezes de forma saudável, como desejos de que os filhos tivessem uma boa história de vida. As tias que gostam de ser tias também pensam sobre eles dessa forma, com o desejo de que cheguem ao mundo com a força necessária para encará-lo. E ser tia dos seus seis sobrinhos, para a autora, é um papel do qual não abre mão.

Agnes foi o último nome que Carla sugeriu à irmã. Depois dele, não foi capaz de pensar em qualquer outro. Não sabia o significado, não fez pesquisa para saber origem. A sua sonoridade foi que a permitiu pensar que nele caberiam todas as características da pessoa que a autora acreditava que sua sobrinha poderia ter um dia.

Adriana deu à filha o nome há tanto tempo escolhido: Amanda. Quando ela nasceu, Carla já começara a escrever o romance que, a princípio, tinha o título de À Deriva. Quando a Amanda chegou, Agnes já se desprendera da história da menina, e continuava seu caminho, transformando-se em uma mulher que, apesar das mazelas da vida, lutava para ser quem era, assim como para que as pessoas a sua volta também tivessem o mesmo direito.

Tanto a Adriana quanto a Carla concordam em uma coisa: a Amanda é uma Agnes e tanto em vários aspectos.

Jardim de Agnes é dedicado à Amanda, “de quem o nascimento inspirou a criação de Agnes”.

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